As Big Techs na universidade brasileira: caminhos para a plataformização da educação pública.
Palavras-chave:
big techs, universidades públicas, plataformização, Formação humanaResumo
O artigo discute de que forma a entrada das Big Techs nas universidades públicas brasileiras impacta um dos principais espaços públicos dedicados ao desenvolvimento da formação humana. Para isso, fundamenta-se principalmente nos estudos de José van Dijck, que propõe a compreensão da sociedade a partir do conceito de plataformização, além do diálogo com o capitalismo de vigilância, de Zuboff (2020), e com a teoria das capacidades humanas, de Nussbaum (2012; 2015). Com o objetivo de analisar o cenário vivenciado por instituições que aderiram aos serviços dessas corporações, foram selecionadas cinco universidades federais brasileiras, cujos documentos institucionais , a saber, Plano de Desenvolvimento Institucional, Plano de Gestão de Tecnologias da Informação (TI) da instituição de ensino e termos de acordo, realizados entre a universidade e as empresas Google ou Microsoft, para a oferta de aplicativos, foram analisados, juntamente à aplicação de questionários a gestores das áreas de tecnologia da informação. Os resultados apontam que a inserção das Big Techs nessas universidades gera não apenas uma crescente dependência tecnológica, mas também interferências significativas nos processos administrativos e acadêmicos. Isso se deve, sobretudo, à indução ao uso de ferramentas centradas na análise de dados numéricos relacionados ao desempenho de tarefas, o que compromete a formação integral das capacidades humanas. A presença dessas grandes corporações tecnológicas estrangeiras induz um processo de plataformização da educação pública, enfraquecendo a autonomia dos educadores, promovendo a privatização do ensino por meio da vigilância algorítmica e da monetização de dados educacionais.
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