Cadernos de Pesquisa

O estado do conhecimento sobre a Educação Física no Novo Ensino Médio

Sérgio de Oliveira Junior, Victor Julierme Santos da Conceição — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

A reestruturação curricular do Ensino Médio, iniciada pela Medida Provisória 746/2016 e formalizada pela Lei nº 13.415/2017, direciona e impacta significativamente o campo da Educação Física. Para compreender este cenário, a presente pesquisa tem como objetivo identificar a produção do conhecimento em periódicos científicos, dissertações e teses sobre as implicações do Novo Ensino Médio na Educação Física. A metodologia adotada foi o Estado de Conhecimento, que guiou a pesquisa com rigor científico, permitindo compreender a linha temporal das produções científicas existentes do objeto de estudo. Foram selecionadas 11 dissertações, uma tese e 33 artigos dos Periódicos CAPES, datados de 2017 a 2024. As considerações transitórias foram construídas por meio da bibliografia propositiva do Estado do Conhecimento, com base nas análises do material encontrado. As pesquisas mostram a secundarização e a desvalorização da Educação Física no Ensino Médio, vista a redução de carga horária da disciplina em todas as 27 Unidades Federativas do Brasil. A Lei nº 13.415/2017 simplifica o objeto de ensino da Educação Física ao estabelecer “estudos e práticas”, valorizando os conhecimentos técnicos e práticos. Segundo as pesquisas, os itinerários formativos
abrem brecha para a terceirização da disciplina e para a entrada do “notório saber”. Assim, é necessário repensar a Educação Física no Ensino Médio, fortalecendo seu objeto de ensino e legitimando suas atribuições.

Mineração de texto sobre gamificação no ensino de história e inclusão: proposta de revisão sistemática

qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

A gamificação tem demonstrado sua eficácia no processo de ensino-aprendizagem. Este trabalho objetiva apresentar uma revisão sistemática da literatura, realizada em dois portais de pesquisa do Brasil, a Biblioteca Digital Brasileira de Dissertações e Teses (BDTD) e a Scientific Electronic Library Online (SciELO), ao longo do primeiro semestre do ano de 2023, com foco na gamificação no ensino de história e na perspectiva inclusiva da educação, conforme destacado por Koller (2014). Através dos descritores: gamificação, ensino de história, educação inclusiva e metodologias ativas, buscamos analisar como os trabalhos acadêmicos abordaram esses conceitos, identificando padrões e relacionamentos entre eles por meio da mineração de textos com a ferramenta Sobek. Embora tenhamos encontrado trabalhos sobre gamificação e história, não foram encontrados resultados que relacionassem todas as temáticas propostas: gamificação com o ensino de história e com a educação inclusiva, ressaltando a necessidade de mais pesquisas sobre essa correlação temática.

Escolarização e autoria negra para o enfretamento da deslegitimação da população afro-brasileira

Mariléia dos Santos Cruz — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

Este texto visa esboçar uma reflexão sobre a escolarização e a autoria negra como elementos de resistência, que exercem importante papel na luta para reverter a desvalorização sofrida pelas pessoas de descendência africana. A pesquisa de natureza bibliográfica e documental respaldou-se em estudos teóricos e usou fontes primárias, constituídas por duas correspondências do diretor da Casa dos Educandos Artífices ao Presidente da Província do Maranhão. Analisaram-se trechos da escrita de três autores negros maranhenses filhos de mulheres escravizadas, nascidos no século XIX: Maria Firmina dos Reis (1822-1917), José Nascimento Moraes (1882-1958) e Raul Astolfo Marques (1876-1918). Eles se destacaram no serviço público, na docência e ou no jornalismo, e se fizeram porta-vozes da população negra excluída socialmente, por meio da literatura. Foram observados suas biografias e seus escritos sobre a vida da população negra no período da escravidão e no pós-abolição. Sendo assim, chamamos atenção para relevância de tornar conhecidas as
biografias e as obras literárias de negros e negras, contribuindo com a construção de uma memória nacional mais plural, que possa impactar na promoção de uma educação antirracista para as novas gerações.

Professores iniciantes: os desafios docentes na educação básica

Thais Pulgatti Trindade, Celso Ilgo Henz, Doris Pires Vargas Bolzan — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

Neste artigo apresenta-se um recorte de pesquisa no qual o foco é mostrar quem é o professor iniciante que atua nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na rede pública do município de Santa Maria, estado do Rio Grande do Sul (RS), e quais suas características a partir da problematização do tema por meio da
proposta político-metodológica dos círculos dialógicos. Ao longo do texto, explicitam-se as contribuições dos “Círculos Dialógicos Investigativo-auto(trans)formativos” para o desenvolvimento profissional de docentes em início de carreira na Educação Básica. A abordagem metodológica escolhida para ser utilizada neste estudo são os Círculos Dialógicos Investigativo- auto(trans)formativos, que têm as principais contribuições de Freire (1999, 2001, 2011); Freire e Shor (1986); Henz (2003, 2012, 2015, 2018) e Josso (2004, 2010). Como resultados preliminares, destaca-se que os círculos constituem-se como um espaço de acolhimento, de diálogo em que os participantes falam de seus desafios e veem que não estão sozinhos nesse processo de aprendizagem docente auto(trans)formando-se como pessoas e profissionais. Ao longo dos círculos, foram surgindo
desafios e possibilidades que mobilizaram novas discussões sobre a prática docente, as quais deixaram os círculos mais dinâmicos, como um espaço de ouvir e dizer sua palavra. Nos círculos, ainda foi possível perceber que tanto os coautores quanto o pesquisador discutem e refletem sobre as falas e as vivências de cada um que ali está, e a partir disso podem produzir auto(trans)formações.

A docência para professores iniciantes das Ciências Agrárias nas Universidades Comunitárias do Oeste de SC

Tania Maria Zaffari Farias, Nadiane Feldkercher, Daniela Pederiva Pensin — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

O início da carreira docente, aqui definido em até cinco anos de experiência, revela singularidades que perpassam a formação para a docência, a socialização profissional, o acolhimento institucional e as práticas de ensino, entre outros. Nessa inserção profissional o docente também vivencia o entusiasmo inicial, a superação de desafios e a identificação (ou não) com a docência. Com esses pressupostos, objetiva-se analisar a entrada na carreira docente de professores da área de Ciências Agrárias que atuam em universidades comunitárias do Oeste de Santa Catarina. Para tal, a metodologia orientou-se na abordagem qualitativa, de caráter empírico, tendo como colaboradores sete professores, iniciantes na carreira docente nos cursos de Medicina Veterinária, Agronomia e Zootecnia. O instrumento de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados tendo por base aportes teóricos do campo da docência como, por exemplo, Cunha (2006, 2010) e Tardiff (2002). A entrada na carreira docente revelou-se multifacetada, evidenciando facetas no tocante à identidade docente, aos aspectos positivos e aos aspectos desafiadores dessa inserção profissional. A ausência de formação pedagógica específica foi o maior desafio enfrentado pelos docentes, enquanto a colaboração entre colegas foi um dos aspectos positivos. A identidade profissional dos colaboradores da pesquisa confronta o ser
bacharel e o ser professor. Suas práticas de ensino entrelaçam aspectos positivos e desafiadores. A entrada de professores da área de Ciências Agrárias em universidades comunitárias do Oeste de Santa Catarina denota uma mescla entre as dimensões pessoal, profissional e institucional, em que os processos formativos fortalecem a consolidação da identidade e oportunizam a consolidação da carreira docente.

Finalização da carreira docente: características e desafios

Risia Silva Chaves, Lúcia Gracia Ferreira — qui, 19 dez 2024 00:00:00 -0300

O estudo objetivou identificar as características e os desafios de professores em período de finalização da carreira. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, descritiva-exploratória, realizada com 67 professores da Educação Básica atuantes na Rede Municipal de Educação do município de Itapetinga-Bahia. A produção dos dados ocorreu por meio de um questionário aplicado aos professores. A análise e tratamento dos referidos dados foi alicerçada nos autores que embasaram a pesquisa e orientada pela técnica de análise de conteúdo de Bardin (2010). Os dados produzidos foram agrupados em três categorias: 1) perfil; 2) emoções/sentimentos; 3) desafios dos professores. No transcorrer da investigação, encontramos um grupo de professores estressados e cansados, o que gerou um intenso adoecimento docente. Os resultados apontaram a necessidade de fomentar ações/políticas específicas para o docente em fim de carreira que proporcione qualidade de vida e melhores condições de trabalho, valorizando o potencial, a experiência e a relevância desses sujeitos no processo pedagógico.

Cultura material escolar: reflexões sobre a pesquisa

Claudia Alves — ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

Tomando como referência o conceito de cultura material escolar, o artigo busca encaminhar uma reflexão que sistematize, tanto as potencialidades já evidenciadas na pesquisa histórica em educação que tem contribuído com a temática, quanto os desafios que se apresentam para pesquisas futuras. Parte-se do conceito de cultura escolar, no qual insere-se a observação da dimensão material, tanto no seu aspecto pedagógico quanto simbólico. A dimensão simbólica, assim como a relação com a emergência da cultura de massas como fenômeno histórico, ganha relevância nessa análise. Buscamos apontar os horizontes de articulação com a produção e circulação de mercadorias, quanto a emergência da cultura de massas como âmbitos a serem aprofundados na pesquisa relativa a essa temática.

Sentidos atribuídos ao conceito de cotidiano no ensino de ciências: compreensão a partir pesquisas apresentadas nos ENPEC

Nathalie Guerra Vilela, Agenor Pina da Silva, João Ricardo Neves da Silva — ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

O objetivo da pesquisa foi analisar os sentidos que o termo cotidiano assume nas pesquisas apresentadas nos Encontro Nacionais de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC). Para isso, baseou-se na interpretação de Agnes Heller sobre o conceito de cotidiano, além dos referencias do ensino de ciências sobre o tema. Foram analisados 75 artigos publicados em todas as edições do ENPEC que tratavam de pesquisas que fizeram uso do cotidiano em atividades na educação básica escritos, em língua portuguesa. Os excertos foram categorizados a posteriori a partir dos sentidos assumidos pelo termo cotidiano. Foram encontradas 4 categorias sendo elas: Habitualidade; Conhecimentos Prévios; Contextualização e Realidade, que foram agrupadas, com base no referencial teórico, em 2 grandes grupos: Cotidiano como atividade humano genérica não consciente e Cotidiano como atividade humano genérica consciente. Os resultados apontaram que a maioria das pesquisas apresentadas nos eventos apresentam excertos que têm significados atrelados à categoria Habitualidade e que um mesmo pesquisador utiliza o termo cotidiano com sentidos diferentes, apontando assim para uma necessidade de discussão sobre como o cotidiano é interpretado pela pesquisa em ensino de ciências.

Apresentação - Dossiê Escritos sobre educação na América Latina e o Caribe

Sônia Maria da Silva Araújo — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

A temática indígena nas revistas brasileira e mexicana de história da educação

Sônia Maria da Silva Araújo, Alicia Civera Cerecedo — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

O presente artigo tem por objetivo analisar produções acadêmicas sobre a temática indígena na Revista Brasileira de História da Educação (RBHE), de disponibilização aberta desde 2001, e na Revista Mexicana de Historia de la Educación (RMHE), publicada ininterruptamente desde 2013. A partir dessa pesquisa, foram levantadas as seguintes questões: em que nível de frequência a temática indígena vem sendo tratada nos artigos das referidas revistas? Que eixos e/ou perspectivas permeiam esses artigos? Os dados foram coletados considerando-se as publicações ocorridas entre os anos 2001-2024. Trata-se de um estudo do tipo bibliográfico, aportado no modelo de pesquisa denominada de Estado do Conhecimento. Os resultados mostram que do total de 843 artigos publicados pelas revistas, apenas 17 tratam da temática indígena, o que representa, somente, 2%. As perspectivas tratadas foram organizados/as em três eixo: processos de escolarização, cultura e teórico-metodológico, que englobam reflexões sobre instituições e institucionalizações. No âmbito das instituições, trata do ensino superior, escolas multisseriadas, escolas bilingues, dentre outras. No plano da institucionalização, trata: da integração, cristianização, civilização, trabalho e bilinguismo.

Pedagogias decoloniais: do giro decolonial latino-americano ao contexto científico brasileiro

Alder de Sousa Dias, Damião Bezerra Oliveira, Waldir Ferreira de Abreu — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

Este é um estudo sobre pedagogia decolonial em que exploramos as origens, desenvolvimento e estado atual dessas pedagogias. A base teórica de nossa pesquisa é o que Enrique Dussel chamou de decolonização epistemológica do mundo acadêmico e intelectual. Trata-se de um estudo bibliográfico das pedagogias decoloniais na América Latina, com referência na Rede Modernidad/Colonialidad, reconhecida como a principal fonte do que entendemos como a virada decolonial. Fornece uma visão geral atualizada do referencial teórico e conceitual das pedagogias decoloniais em dissertações de mestrado e teses de doutorado brasileiras em Educação. Nossos resultados destacam os trabalhos de Enrique Dussel, Catherine Walsh e Zulma Palermo como pioneiros nesta área, com a pedagogia da libertação de Dussel vista como precursora. No Brasil, essa discussão começou a ganhar força em pesquisas de pós-graduação com Oliveira (2010). Segundo Dias (2021), as principais contribuições teóricas para o desenvolvimento de novos conceitos em pedagogias decoloniais vêm dos trabalhos de Mancilla (2014), Mota Neto (2014), Rufino Jr. (2017) e Gil (2021). Em nosso estudo bibliográfico, incluímos uma tese adicional (Pereira, 2021), por suas contribuições para as pedagogias decoloniais, bem como seu precursor, a Pedagogia Griô.

Disciplina e controles escolares em Cuba nos discursos de Ciência (1880-1898)

Yoel Cordoví Núñez — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

O objetivo principal do artigo é analisar as abordagens pedagógicas relacionadas à disciplina e aos controles escolares, a partir das contribuições de diferentes ramos da ciência que, com diversos graus de desenvolvimento, contribuíram para aperfeiçoar a gestão dos comportamentos docentes nas instituições educacionais cubanas. O texto está estruturado tendo em conta a influência das disciplinas de maior relevância no campo da pedagogia relacionadas com a conduta e regulação da ordem nas instituições escolares; tanto da sociologia, quanto das contribuições da psicologia - ainda incipiente - da fisiologia, da higiene e, claro, das próprias técnicas pedagógicas concebidas na época. Em cada seção, há uma compreensão das diferentes formas de conceber a natureza da corporeidade infantil, não como um elemento imutável, mas como uma construção histórica condicionada de acordo com os diferentes contextos econômicos, políticos, sociais e culturais. O conteúdo está enquadrado entre a década de 1880, coincidindo com o fracasso da primeira guerra
de libertação em Cuba, e o início de um período de intensos debates sobre o assunto, e o fim da dominação espanhola em 1898.

Interculturalidade e educação na fronteira franco-brasileira: distâncias entre o normatizado e o praticado (1996-2020)

Andreia Martel Torres, Sidney Lobato — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

Este artigo objetiva analisar os documentos norteadores das ações governamentais para a educação nas escolas situadas na fronteira franco-brasileira. Compreende-se que a interculturalidade ganha maior relevo em espaços fronteiriços, figurando inclusive nos acordos de cooperação entre países limítrofes. O presente texto se interessa por tais acordos e pela implementação de ações daí derivadas no campo educacional no estado Amapá (Brasil). O artigo estrutura-se em três seções. A primeira aborda a trajetória e as variações do conceito interculturalidade. A segunda seção analisa os documentos norteadores das ações estatais no setor educacional que têm como foco a fronteira franco-brasileira. Já a terceira seção analisa os discursos dos agentes responsáveis pela implementação de tais ações. O estudo realizado levou à inferência da existência de um hiato entre as normativas e as práticas dos agentes estatais locais no concernente à educação intercultural na fronteira.

Análise histórica da matemática na educação primária cubana nos séculos XIX e XX

Marcelina Caridad Moreno García, Walfredo González Hernández — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

O artigo apresenta um estudo da matemática enquanto ciência e o seu ensino no ensino primário nos séculos XIX e XX. Caracteriza o ensino primário e a sua evolução ao longo desses séculos, destacando as principais personalidades da época e as suas contribuições. Os autores estabelecem como objetivo revelar as regularidades do ensino da Matemática em Cuba entre 1850 e 1959. O método de investigação utilizado é a análise documental. O estudo tem em conta as características psicológicas e pedagógicas dos alunos neste nível de ensino, em que o desenvolvimento de algumas funções psicológicas superiores só tem lugar na escola. Também são considerados os elementos fundamentais da matemática neste século: a separação da realidade e o aumento do rigor lógico na obtenção de resultados. É presentado o impacto do desenvolvimento da matemática nos séculos XIX e XX na educação primária atual.

Colonialidade pedagógica na Amazônia brasileira: educação para o sistema-mundo moderno/colonial

Albert Alan de Sousa Cordeiro, Raimundo Nonato de Pádua Câncio — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

O objetivo deste texto, que parte de um levantamento que mapeou aspectos históricos, sociológicos, econômicos e políticos da Amazônia brasileira, é discutir como a colonialidade adquiriu uma dimensão pedagógica que se estruturou nos sistemas de ensino, buscando encobrir as complexas culturas desenvolvidas pelos diferentes povos e populações amazônicas e suas alternativas sistêmicas às sociedades neoliberais. Trata-se de um estudo bibliográfico, de abordagem qualitativa, centrado nas relações de poder que se impõem e se sustentam na Amazônia, mesmo após o fim dos regimes coloniais formais, sobretudo nos modos de produção do conhecimento, e nas relações antidialógicas que sustentam as políticas públicas homogeneizadoras, que configuram o que designamos de Colonialidade Pedagógica. Os dados produzidos mostram que ainda há nessa região instituições que reforçam e se orientam por padrões civilizatórios ocidentalizados, denotando a lógica colonial que persiste na desvalorização, estigmatização e subordinação dos conhecimentos das populações locais no ambiente escolar. Quando estes referenciais sociais são retratados, aparecem
de forma esporádica e através da folclorização. A configuração do ambiente e a organização dos espaços, por
terem como eixo conhecimentos hierarquizados, apresentam-se descontextualizados, pois estão desconectados das experiências, dos modos próprios de socialização e identidades dos diferentes povos amazônicos. Contudo, identificamos processos de resistência e luta protagonizados pelas populações locais.

A política higienista para a infância na América Latina: os casos da Argentina e do Brasil nos séculos XIX e XX

Laura Maria Silva Araújo Alves, Lucía Lionetti, Welington da Costa Pinheiro — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

Este artigo problematiza quais as políticas higienistas foram pensadas e implementadas para a infância, nos finais do século XIX e início do XX, na América Latina (Argentina e Brasil)? A relevância do objeto de estudo se justifica por realizar uma investigação sobre um tema caro no campo da história da educação e da infância, na intenção de revelar como se configurou o pensamento higienista no cuidado e na educação das crianças nesses representativos países. O objetivo do artigo foi discutir a política higienista para a infância na América Latina, especialmente na Argentina, na cidade de Buenos Aires, e no Brasil, no período em tela, destacando as ações e medidas no cuidado e educação da criança nos finais do século XIX e início do XX. A metodologia adotada foi de cunho histórico e do tipo bibliográfico e documental. As principiais fontes documentais utilizadas foram legislações educacionais, relatórios e impressos educacionais, no recorte temporal de 1870 a 1925. A análise das fontes possibilitou identificar que o movimento higienista na Argentina e no Brasil teve papel importante no combate à mortalidade infantil e às doenças que acometiam considerável parcela da população. No âmbito da infância, nos dois países, os médicos difundiram seus preceitos junta às famílias com orientações para as mães, assim como no contexto escolar, por meio das inspeções médico-sanitárias, que tinham como propósito limpar e moralizar o corpo da criança na direção de formar uma infância forte e saudável para contribuir com o progresso e a civilidade almejada no ideário republicado.

A concepção de educação popular em José Martí e Paulo Freire: um encontro entre Cuba e Brasil

qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

O artigo trata da concepção de educação popular em José Martí, de Cuba, e Paulo Freire, do Brasil. Considerados duas referências no campo da educação, José Martí, que viveu de 1853 a 1895, e Paulo Freire, que, por sua vez, viveu de 1921 a 1997, têm produção consistente na área da Educação, em particular no campo da educação popular. Mas, que relações há entre a concepção de educação popular de José Martí e de Paulo Freire? Metodologicamente, é um estudo bibliográfico, voltado para a análise de eixos teóricos que permeiam a ideia de educação popular nos autores. Os resultados demonstram que a concepção de Educação Popular, em José Martí e Paulo Freire, é marcada por um profundo humanismo, perspectivado pelo senso de justiça e luta por liberdade. A pedagogia que dá sustentação à ideia de educação em ambos os autores é a vida. A educação é defendida, por eles, como com um instrumento de luta pelo direito à existência digna.

Juventudes geracionais: reverberações históricas e suas representações

Ivany Pinto Nascimento, Lucía Lionetti — qua, 18 dez 2024 00:00:00 -0300

Este artigo teve o objetivo abordar as gerações de juventudes brasileiras e argentinas na perspectiva de suas respectivas representações, ontem e hoje, de uma perspectiva histórica comparada e conectada. É abordado neste estudo, as juventudes que viveram tanto na modernidade quanto na pós-modernidade. Para isso, foram eleitos dois aspectos a saber: 1) os períodos históricos da modernidade e da pós-modernidade, marcados por eventos históricos sociais e culturais que justificaram o aparecimento de pensamentos, afetos e fazeres nas diferentes épocas e contextos; e 2) a cultura juvenil, presente em cada período por considerar que a abordagem sobre as culturas juvenis de cada época histórica assegura maior clareza sobre a dinâmica psicossocial dessas juventudes.

Dossiê - Educação e Diversidade: o olhar sobre as comunidades ciganas

ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

Dossiê – Educação e Diversidade: o olhar sobre as comunidades ciganas: apresentação.

Na trilha dos viajantes: perspectivas para uma pedagogia da itinerância

Flávio José de Oliveira Silva — ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

O estudo tem como objeto as práticas educativas e culturais dos Ciganos Calon, Matchuawa, Roraranê e Kalderash, com o objetivo de compreender os processos educativos reconstruindo sua historicidade no espaço geográfico do Rio Grande do Norte. De natureza qualitativa, a investigação se filia à História da Educação, com ênfase na História Social, ao evidenciar um fenômeno social, cultural e educativo. O trabalho tem sua relevância em proporcionar novas reflexões acerca dos modos de vida cigana e itinerante, bem como em reconhecer alternativas de interação humana com os sujeitos da diversidade, que se encontram em quase todo o território nacional, e, em específico, no RN, embora ainda estejam excluídos das salas de aula do nosso país. Além disso, possibilita construir referências para possíveis mudanças, contribuindo para o enfrentamento ao preconceito e para a construção de uma educação de qualidade social embasada numa pedagogia da itinerância, oportunizando o debate para melhor compreender as relações étnico-raciais e a diversidade presente em nosso país.

A inclusão dos ciganos no sistema de cotas nas Instituições Estaduais e Federais de Ensino Superior: apresentando a situação no estado da Paraíba

ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

Este artigo apresenta a situação dos ciganos quanto ao processo de inclusão no sistema de cotas das instituições estaduais e federais de ensino superior da Paraíba. Inicialmente, traçamos um panorama histórico da situação da comunidade cigana no Brasil, abordando as características físicas, raciais e culturais frequentemente atribuídas a eles. A pesquisa foi conduzida por meio de revisão documental e observações diretas das reuniões das comissões de planejamento na UEPB, IFPB, UFPB e UFCG. Constatamos que o sistema de cotas abrange diversas minorias, como negros, indígenas, quilombolas, transexuais e deficientes físicos. No entanto, apesar da significativa presença de comunidades ciganas na região, o processo de inclusão permanece estagnado, quando se destina aos ciganos. Consideramos que a política de cotas é uma ferramenta essencial para a reparação e inclusão dos ciganos, contribuindo para combater estigmas e possibilitando um futuro em que as próximas gerações tenham igualdade de oportunidades no mercado de trabalho.

“Dia municipal da etnia cigana de Penedo – AL”: contexto e reflexões na comunidade Calon e na escola

Edluza Maria Soares de Oliveira, Claudia Mura — ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

Trata-se de um recorte da dissertação de mestrado^[1] apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social – PPGAS da Universidade Federal de Alagoas, em julho de 2023. Nosso objetivo é desenvolver reflexões sobre o contexto em que se deu a elaboração da Lei Municipal nº 1.650/2019, que instituiu o “Dia Municipal da Etnia Cigana de Penedo-AL”, analisando tensões e desafios imbricados na referida elaboração. Além disso, visamos problematizar as implicações da referida legislação no cotidiano da comunidade, trazendo relevantes reflexões sobre algumas ações desenvolvidas a partir do âmbito escolar. Os sujeitos da pesquisa foram os ciganos de etnia Calon residentes na parte alta da cidade de Penedo, situada no extremo sul das Alagoas, na região do Baixo São Francisco. A metodologia que permeou toda a pesquisa foi a prática etnográfica, e entre as técnicas utilizadas destaco a análise documental, que possibilitou versar sobre a lei supracitada e os meandros a qual foi instituída. Quanto aos resultados, a legislação, enquanto um aparato legal, constitui-se como um instrumento de luta para a visibilização e protagonismo dos Calon. Ainda que haja um equívoco quanto à denominação da referida lei, esta se apresenta como um marco na construção de um novo regime de memória na cidade de Penedo-AL, que poderá impulsionar a elaboração e/ou ampliação e ajustes de políticas públicas para a população cigana local.

^[1] Dissertação de mestrado defendida em julho de 2023 cujo título é: "Essa tradição é de andar": dinâmica territorial Calon e regimes de memória em Penedo – AL.

Encontro de Saberes e extensão universitária: práticas educativas entre a Escola e a Comunidade Cigana Calon em Sousa/PB

Luan Gomes dos Santos de Oliveira — ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

Este texto foi escrito a partir da partilha do círculo de diálogo entre saberes, pautados na relação entre saúde, meio ambiente, arte e práticas educativas. Foi uma proposta construída por vivências coletivas, ou seja, baseadas na vida cotidiana dos discentes que compõem a Comunidade Cigana Calon de Sousa/PB, na Escola M. E. F. Irmã Iraides Holanda Lavor, localizada entre os ranchos que formam a Comunidade Cigana, onde são oferecidos o Ensino Infantil e o Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano) abrangendo crianças de 4 a 11 anos de idade, nos anos letivos de 2022 e 2023. Sendo assim, cumpriu-se como itinerário a interseccionalidade entre gênero-raça/etnia (ecofeminismo), saúde (direitos dos/as usuários/as à saúde a partir da Lei Orgânica da Saúde – LOS (8080/90), Política Nacional de Humanização (PNH), Política de Atenção à Saúde de Crianças e Adolescentes) e meio ambiente (ecologia política) mediadas pelas práticas educativas à luz da perspectiva freiriana. Esta proposta configurou-se como uma ação extensionista, integrando saúde, educação, arte e meio ambiente na construção de práticas educativas para a formação integral dos indivíduos e instituições abrangidos por essa experiência. Por fim, esta experiência extensionista foi capaz de propiciar reflexões pelos/as discentes participantes do projeto, de modo que puderam se perceber enquanto seres de aprendizagem no diálogo com a Comunidade Cigana Calon de Sousa/PB, assim como foi possível elaborar uma cartilha sobre os principais direitos humanos e sociais relacionados a esta população tradicional.

A formação continuada de professores gadjés no município de Raposa/MA

Luane Mendes Gonçalves, Iran de Maria Leitão Nunes — ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

Este artigo apresenta uma situação de pesquisa realizada no município de Raposa/MA, sobre a formação de professores gadjés frente à diversidade cultural dos alunos. A investigação se originou de questões suscitadas a partir da experiência de uma professora da rede pública no município de Raposa, ao se deparar com um corpo estudantil composto por crianças ciganas e não ciganas. A partir desse exercício maior, este artigo aborda o desafio contido na formação de professores não ciganos, que precisam lidar com a diversidade cultural e étnica no ambiente escolar. O objetivo é analisar a formação de professores gadjés no município de Raposa/MA frente a essas questões. Para tal, apresentaremos a reflexão de especialistas a respeito da formação docente e a importância de se incluir as diversidades, bem como apresentamos as primeiras evidências empíricas já encontradas. Este artigo adota uma abordagem qualitativa, coletando as falas dos professores nas categorias Formação de Professores, Diversidade Cultural e Ciganos, e utilizando técnicas de análise de conteúdo, segundo Bardin (2011). Apoiamo-nos também nas contribuições metodológicas da Pedagogia Histórico-Crítica. O principal achado da pesquisa é que a formação de professores gadjés no município de Raposa pode ser aprimorada ao incorporar práticas inclusivas e culturalmente sensíveis, que considerem a sazonalidade e os hábitos culturais específicos das famílias ciganas. Concluímos trazendo perspectivas para uma formação que alcance não só os professores, mas também a diversidade cultural dos alunos, destacando os possíveis desafios enfrentados por ambos.

Nas ondas da comunicação: ciganos e Podcast

José Aclecio Dantas, Maria Patrícia Lopes Goldfarb — ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

Este artigo é fruto das ações integradas do projeto de extensão “Ciganos e Podcasts: a antropologia como instrumento de democratização do saber”, realizado em colaboração com o Grupo de Estudos Culturais (GEC) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e apresenta e reflete os efeitos destas ações entre os jovens ciganos participantes. O projeto ofereceu oficinas para os jovens da comunidade cigana em Sousa-PB, integrando os estudos sobre a cultura e identidade cigana com os conhecimentos locais, além de associar a prática dos podcasts às necessidades cotidianas da comunidade. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa que envolveu leituras e debates a respeito de temas importantes sobre a construção das identidades étnicas ciganas. O projeto, implementado durante 12 meses, esteve estruturado em quatro fases: pesquisa bibliográfica e estudo sobre as temáticas relacionadas à história e às identidades ciganas; os conceitos básicos que permeiam tais histórias e identidades; a escuta atenta e os debates com os jovens da comunidade; e a articulação com instituições locais, a capacitação em mídias digitais e o planejamento e produção de um podcasts. Os dados coletados indicaram engajamento dos jovens ciganos na criação e divulgação de mídias que promovem o conhecimento e a valorização de sua cultura na sociedade, facilitando a fluidez e a mobilidade das fronteiras identitárias entre ciganos e não ciganos. Indicaram também que os jovens ciganos envolvidos no projeto, no bojo dos “criadores de conteúdos”, diante da possibilidade de escolha da plataforma utilizada, na maioria das vezes, optaram por mídias digitais que rendessem visualizações e monetizações.

Jogos como ferramentas de ensino de histórias ciganas: aplicação e implementação do jogo “A última canção de Birkenau”

Lucas Medeiros de Araújo Vale, Aquiles Medeiros Filgueira Burlamaqui — ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

Este artigo apresenta a aplicação e avaliação do jogo educacional “A Última Canção de Birkenau”, desenvolvido para ensinar sobre o genocídio cigano empreendido pelos nazistas no século XX. A pesquisa foi realizada com estudantes do 9º ano do ensino fundamental, visando promover uma educação inclusiva e diversificada. A metodologia incluiu a aplicação do jogo e a coleta de dados sobre o conhecimento prévio dos alunos, seguido de uma avaliação da aprendizagem após a atividade. Os resultados indicam que a maioria dos estudantes reconheceu a eficácia do jogo na aquisição de novos conhecimentos sobre as práticas de extermínio nazistas e a história cigana, evidenciando o potencial dos jogos como ferramentas pedagógicas.

Experiências profissionais e educacionais entre jovens Calon da comunidade cigana de Sousa-PB

Mércia Rejane Rangel Batista, João Dias Pereira — ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

Com o fim do nomadismo, muitas mudanças vêm ocorrendo na vida dos ciganos Calon que residem na cidade de Sousa-PB. Um dos principais fatores dessa mudança diz respeito à sociabilidade entre ciganos e não ciganos que, se antes acontecia quase que exclusivamente para fins de atividade econômica, hoje acontece de várias formas, incluindo amizades, casamentos, e experiências escolares. Os ciganos mais jovens vêm cada vez mais priorizando os estudos para melhor se capacitarem para o mercado de trabalho, mesmo assim o preconceito e a discriminação têm prevalecido na busca por emprego no setor privado local. Deste modo, este artigo aborda algumas mudanças culturais, e seus efeitos sobre os mais jovens, na busca por escolarização na cidade. Realizou-se entrevistas com jovens ciganos residentes em Sousa, cujas falas foram analisadas, bem como se refletiu sobre o cotidiano destes jovens na interface entre educação escolar e oportunidades de trabalho no setor privado da cidade.

Dando visibilidade ao povo cigano da Paraíba: resgatando cidadania, garantindo direitos

ter, 18 fev 2025 00:00:00 -0300

Ao pesquisar sobre a escolarização de ciganos na Paraíba, defrontamos experiências formadoras e enriquecedoras. Apresentamos neste artigo uma reflexão gerada a partir de um projeto de pesquisa desenvolvido em 2014, em duas escolas estaduais localizadas nas proximidades da comunidade cigana de Sousa (sertão da Paraíba). Para apresentar a discussão proposta – a importância de tornar a existência cigana uma realidade visível e valorizada – apresentamos as políticas públicas brasileiras, além das legislações que tenham por público-alvo os ciganos. E nos perguntamos sobre os obstáculos para que esse aparato legal possa ser efetivamente aplicado, tomando o município de Sousa como lócus de pesquisa. A hipótese que nos guiou é que identificaríamos aproximações e discrepâncias entre os aparatos documentais enfocados e as narrativas apresentadas pelos atores envolvidos. Realizamos uma pesquisa de cunho documental e qualitativo, com uma metodologia que abrangeu a revisão bibliográfica, incursões ao campo de pesquisa, contemplando visitas, entrevistas e encontros nas duas escolas pesquisadas. A análise de dados indicou a necessidade de se oferecer aos professores oportunidades de discussões e orientações sobre educação e sua relação com a diversidade. Espera-se com a socialização das ideias aqui postas, ressignificar visõessobre os ciganos, reconhecendo-os como cidadãos brasileiros, com garantias constitucionais e incluídos, por direito, na sociedade brasileira.