Saúde, professor/a! Do perfil do adoecimento docente às repercussões na prática pedagógica
Palavras-chave:
Adoecimento, Trabalho docente, Prática pedagógica.Resumo
O adoecimento do/a educador/a e suas possíveis repercussões na prática pedagógica. Destacamos articulações entre a organização do ensino brasileiro, as reformas educacionais em parte decorrentes do estágio em que se encontra o capitalismo na contemporaneidade, e as incidências quanto a organizar e gerir a escola, para uma compreensão das alterações no trabalho docente e nos processos da saúde-doença no contexto escolar, tentando aproximações à noção de subjetivação para evidenciar respostas sinalizadas como efeitos desta. Objetivamos construir um perfil do adoecimento dos/as educadores/
as da Rede Pública Municipal de Educação de São Luís, para
identificar possíveis repercussões deste na prática pedagógica em sala de aula, ressaltando características organizacional-ambientais apontadas pelas docentes como aspectos que podem favorecer situações de desgaste, enunciando o quadro de adoecimento e seus efeitos em termos de licenças médicas e afastamento do trabalho e desvelando movimentos de atenção e reação aos agravos à saúde
docente. O referencial teórico apresenta contribuições de pesquisadores como: Antunes (2001, 2004), Oliveira (2000, 2002, 2003), Freitas (2001), Silva (2002), Esteve (1999), Codo (2002), Martinez (2003), Araújo e Paranhos (2003), Araújo et al. (2005), Gasparini, Barreto e Assunção (2005), Bardin (2004), dentre vários. Ainda recorremos a outros aportes, destacando em Foucault (2003, 2006, 2007) o poder--saber sobre o corpo vivo, a (re)organização do saber médico e do significado da doença; também contamos com o apoio de Minayo--Gomez e Barros (2002) e Barros (2002, 2003) pela incorporação das discussões sobre processos de subjetivação na escola, que contribui para outras perspectivas de análise do afastamento do trabalho do/a educador/a, via licenças médicas. Adotamos uma abordagem qualitativa
de pesquisa, utilizando como procedimentos e instrumentos:
análise documental, entrevista semiestruturada, questionário
autopreenchível e observação participante. Para análise dos dados consideramos as orientações da Análise de Conteúdo. Como sujeitos da pesquisa tivemos as educadoras das séries iniciais do Ensino Fundamental de uma escola da zona urbana de São Luís, além dos/as gestores/as, coordenadores/as e uma amostra dos/as alunos/as, no turno matutino. Os principais resultados do estudo sugerem atenção à existência de determinados fatores descritos como inadequados ao bom desempenho do trabalho e facilitadores do desgaste docente e, à intensa sobrecarga de trabalho referida pelas professoras, principalmente no que concerne à quantidade de alunos/as em sala de aula, excesso de atividades e tarefas a cumprir, exigências pedagógicas, utilização dos horários destinados ao intervalo e falta de apoio familiar. É possível afirmar que os dados apontam para uma denúncia da situação de adoecimento em que se encontra o/a educador/a, pois dentre as categorias que integram o serviço público municipal, esta é a que mais se ausenta do trabalho por motivo de licenças médicas; o perfil do adoecimento docente se caracteriza por elevada incidência de doenças, especialmente aquelas relacionadas ao sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, seguidas por transtornos mentais e comportamentais, doenças do aparelho respiratório, doenças do aparelho circulatório e neoplasias. Notamos acentuado percentual de licenças em prorrogação, subtendendo o afastamento contínuo de um/a educador/a, além da associação de diagnósticos para uma mesma licença, ou seja, o/a educador/a não apenas adoece, adoece por várias causas. Observamos que na escola, contrariando os índices, apesar de alguma situação de adoecimento a educadora permanece em sala, como se resistisse a dela ausentar-se. Inferências acerca das repercussões desse adoecimento na prática pedagógica permitem associá-las a componentes como planejamento, relação professor/a-aluno/a e avaliação, denotando que a mesma não se isola nem fica imune aos agravos à saúde docente. Podemos dizer que algumas ações observadas, talvez insignificantes para as professoras, são, na verdade, movimentos de luta e reação contra as situações de adoecimento, movimentos que diferem entre si de acordo com a capacidade de cada uma delas compreender e lutar contra seu adoecer.
Palavras-chave: Adoecimento. Trabalho docente. Prática pedagógica.
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