v. 12 n. 24 (2021): Literaturas Africanas - caminhos, cotejos, identidades

					Visualizar v. 12 n. 24 (2021): Literaturas Africanas - caminhos, cotejos, identidades

É inegável que a África, como continente e como espaço de expressão literária e artística, vem chamando a atenção de inúmeros acadêmicos nos últimos anos, sobretudo através dos estudos pós-coloniais (ASHCROFT, 2013). Esse interesse não se deve apenas ao seu visível exotismo, mas à narração (ficcional ou não) de questões espinhosas em termos de sociedade, de identidade e de desenvolvimento histórico e cultural (FANON, 2008, GIKANDI, 2009), cujos reflexos permanecem sendo sentidos, e que têm desdobramentos em outras partes do mundo, como as Américas Central e do Sul, majoritariamente, por conta do legado colonial compartilhado. Nessa perspectiva, Ngũgĩ wa Thiong’o (1987) argumenta que a linguagem nas literaturas africanas não pode ser significativamente discutida desconsiderando as forças sociais que a criaram. Logo, a literatura apresenta-se como o estímulo para maiores debates sobre abismos humanitários de diferentes ordens. O desafio para os estudos sobre literaturas africanas, contudo, é evitar cair nas armadilhas de uso, por exemplo, do que o escritor queniano Binyavanga Wainaina (1971-2019) ironicamente destaca como palavras-chave estereotipadas, tais como “safari” ou “escuridão” em títulos de trabalhos, e ‘Zulu”, “céu”, “grande”, “sombra”, “sol” ou “Nilo” em subtítulos (WAINAINA, 2005).

Com base nesses argumentos iniciais, a proposta do dossiê é mostrar que a África é muito mais do que esses e outros estereótipos, realçando a riqueza artística, literária e cultural do continente (KANNEH, 1998), nas suas mais diversas formas de expressão.

Para tanto, serão aceitos artigos, resenhas e entrevistas, bem como traduções inéditas (de artigos, entrevistas ou excertos literários, acompanhados das devidas cartas de autorização) que abordem tópicos relacionados às literaturas africanas - seja no âmbito da literatura comparada (literaturas africanas e brasileira, por exemplo), seja nos estudos de tradução ou nos estudos das literaturas africanas de expressão francesa, inglesa ou portuguesa, e suas inter-relações.

Referências

ASHCROFT, Bill; GRIFFITHS, Gareth; TIFFIN, Helen. (Eds.). Postcolonial Studies. The Key Concepts. 3rd ed. London, New York: Routledge, 2013.

_____. The Empire Writes Back: Theory and Practice in Post-Colonial Literatures. London, New York: Routledge, 1989.

FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: Edufba, 2008.

GIKANDI, Simon. Cambridge Studies in African and Caribbean Literature. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.

KANNEH, Kadiatu. African Identities: Race, Nation and Culture in Ethnography, Pan-Africanism and Black Literatures. London: Routledge, 1998.

WAINAINA, Binyavanga. How to Write About Africa. Granta, Londres, n. 92, 2005. Disponível em: <https://granta.com/how-to-write-about-africa/> Acesso em: 24 fev. 2021.

THIONG’O, Ngũgĩ wa. Decolonising the Mind: The Politics of Language in African Literature. London: James Currey, 1987.

Publicado: 2021-11-22

Edição completa

Ficha Técnica

Apresentação

Resenha