Contingência: A sensibilidade do possível
Resumo
Há aproximadamente duas décadas assistimos, frequentemente alimentado pelo desejo de oferecer novos paradigmas para as ciências em geral e para as ciências sociais em especial uma discussão sobre a afirmação que “algo é como é, mas, também, poderia ser diferente”. Esta constatação - que pode soar para alguém não familiarizado com o assunto mais do que banal - sintetiza, todavia, o significado do conceito de contingência. A discussão sobre este conceito se sobrepõe cada vez mais aos apaixonados debates sobre o caos determinístico, a ambivalência, a hibridez, a não-causalidade, a nãolinearidade, as turbulências, a estoquástica, a emergência, o acontecimento, a aleatoriedade, o risco etc. Assim o conceito de contingência parece ter força suficiente - com sua larga aceitação entre aqueles que participam nas discussões epistemológicas - para ser considerado a chave para um desfecho paradoxal da crise paradigmática mais recente. Sem poder contribuir para este desfecho queremos neste modesto texto apresentar a contingência, seguindo uma formulação de Robert Musil, como a sensibilidade do possível.