Neoliberalismo, avaliação externa e a invenção do TDAH: uma análise foucaultiana

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18764/2178-2229v31n3.2024.39

Palavras-chave:

neoliberalismo, racionalização da prática governamental, cultura da avaliação, doenças do não-aprender, TDAH

Resumo

Este trabalho pretende uma articulação entre as práticas de avaliação externa, o neoliberalismo e a propagação das novas “doenças do não-aprender”. Trazemos, inicialmente, as análises de Foucault acerca do neoliberalismo para indicar como esta forma de racionalidade econômica e política consiste na produção de um Estado vigilante com vistas à instauração e regulação dos mecanismos da concorrência nos mais diversos extratos sociais. Em seguida, abordamos as práticas de avaliação externa, de larga escala e censitária, em sua breve história, em seu funcionamento e em suas parcerias, como um braço de ação do neoliberalismo. Por fim, indicamos como as novas “doenças do não-aprender”, especialmente o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), consistem na formação de um dispositivo psiquiátrico capaz de produzir enormes mecanismos de exclusão na dinâmica concorrencial alimentada pela racionalização dos processos de avaliação externa. 

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Biografia do Autor

Pablo Severiano Benevides, Universidade Federal do Ceará

Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (UFC) e do Departamento de Fundamentos da Educação (UFC). Possui Pós-doutorado em Filosofia da Educação (Universitat de Barcelona), Doutorado em Educação (UFC/UERJ), Mestrado em Filosofia (UFC) e Graduação em Psicologia (UFC). 

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Publicado

2024-09-17

Como Citar

BENEVIDES, Pablo Severiano.
Neoliberalismo, avaliação externa e a invenção do TDAH: uma análise foucaultiana
. Cadernos de Pesquisa, p. 1–23, 17 Set 2024 Disponível em: https://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/23345. Acesso em: 26 set 2024.

Edição

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Artigos