Transformação e aceitação: A jornada interior na terceira caminhada de Rousseau
Palavras-chave:
Rousseau, Terceira Caminhada, Transformação, AutoconhecimentoResumo
Nos últimos anos de sua vida, Rousseau dedicou-se a redigir meditações que seriam reunidas, após sua morte, na obra Os Devaneios do Caminhante Solitário. Nesses textos, surgidos em meio ao distanciamento social e à necessidade de encontrar um refúgio interior, o filósofo realiza uma reflexão sobre sua existência, suas transformações e suas relações com o tempo e a natureza. A Terceira Caminhada ocupa lugar central nesse percurso ao examinar as mudanças físicas e morais percebidas a partir dos quarenta anos, destacando a consciência do envelhecimento e a necessidade de reconexão consigo mesmo. No desenvolvimento dessas meditações, observa-se como a experiência da transformação e da passagem do tempo conduz à valorização da consciência da própria existência. A solidão, longe de ser apenas um afastamento dos outros, torna-se um espaço de autoconhecimento e de resistência interior, especialmente diante da hostilidade, das calúnias e do isolamento a que o filósofo foi submetido nos últimos anos de sua vida. Nesse fragmento, o genebrino enfrenta as limitações impostas pela vida, ao mesmo tempo em que busca, na memória e na percepção da natureza, meios de reafirmar a si mesmo. Assim, a Terceira Caminhada se insere na obra como um marco da maturidade espiritual de Rousseau, representando um momento de ruptura com a hostilidade social que enfrentou e de reconstrução do eu a partir da própria experiência sensível. A linguagem imagética, os ritmos da prosa e a fusão entre natureza e subjetividade que atravessam esse fragmento fazem dele uma antecipação de temas que se tornariam centrais no Romantismo e nas reflexões existenciais que ganhariam força a partir do século XIX, tornando visível, também, sua atualidade na sociedade contemporânea, marcada pela fragmentação das relações humanas, pela aceleração do tempo e pela necessidade de valorização da experiência interior, da memória e da transformação, fundamentais para a preservação do sentido da existência humana.
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Referências
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