ESPAÇO, LUGAR E APROPRIAÇÃO EM NARRATIVAS COLONIAIS
O caso da feira de Kassanje, Angola (século XIX)
DOI :
https://doi.org/10.18764/2595-1033v6n14.2023.8Mots-clés :
Espaço, narrativas coloniais, Angola, KassanjeRésumé
As linhas que seguem são uma tentativa de verificar a potencialidade de se investigar a relação entre espaço e sociedade na região de Kassanje, Angola, no século XIX, buscando compreender a utilização de relatos coloniais para inserir os subsídios espaciais para além de palco de acontecimentos, mas como um elemento importante na construção de narrativas coloniais. Para tal, se lança atenção à narrativa produzida pelo Capitão e Diretor da feira de Kassanje, Antonio Rodrigues Neves, além do breve relato de seu superior, o Major Francisco de Salles Ferreira. Os testemunhos trazem elementos importantes para inferência não apenas por seus conteúdos, mas porque se inserem em uma produção colonial que está intimamente ligada ao contexto de conflitos abertos entre portugueses e africanos no entremeio do século XIX, pautado por ideais do liberalismo e da garantia de forças políticas crivadas por tensões comerciais herdadas da Independência do Brasil, da paulatina queda do comércio de escravizados e de tentativas outras de inserções comerciais em Angola. Tal objetivo permite abrir um leque de questões, como os motivos que levaram a historiografia a não depositar interesse na espacialidade do território Kassanje e tampouco a interação entre espaço e sociedade no contexto colonial africano oitocentista.
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