Recordações d’uma colonial: autobiografia credível ou sátira racista?
Palavras-chave:
Autobiografia. Racismo. Colonialismo. Linguagem. Negritude.Resumo
As memórias ficcionais da cabo-verdiana Fernanda do Vale, figura bem conhecida da boémia lisboeta
do início do século XX, chegaram a público pela pena de dois autores obscuros, A. Totta e F.
Machado. Será esta uma autobiografia autêntica ou um mero ato de ventriloquismo? Defendo que o
retrato caricatural de Fernanda é, na verdade, um relato ficcional pouco credível, e um exemplo do
que Alexandra Ishfahani-Hammond chama de white negritude. Através de uma análise detalhada das
inconsistências do texto autobiográfico de Fernanda, e tendo por base algumas teorias de simulação
linguística (mock ebonics) enquanto instrumento de sátira e racismo, este artigo mostra como a linguagem
é um poderoso mecanismo de demarcação social e racial: o discurso e ideologia colonialistas
são projetados na voz de Fernanda, cujo corpo representa o território africano a ser dominado e cuja
identidade é transitória e flutuante.
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