A confiança como “técnica disciplinar” e o controle sobre a autorrealização de mulheres no contexto do trabalho

Autores

  • Camila Maciel Campolina Alves Mantovani Universidade Federal de Minas Gerais
  • Sônia Caldas Pessoa Universidade Federal de Minas Gerais
  • Angela Cristina Salgueiro Marques Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.18764/2176-5111v17n30.2022.11

Palavras-chave:

Confiança, Técnicas de si, Mulheres nas organizações, Controle disciplinar

Resumo

Este artigo parte da abordagem da confidence culture e de seus impactos sobre as mulheres que trabalham em organizações através da sugestão de práticas individuais que prometem a ampliação da autoconfiança e da autoestima. Em diálogo com várias autoras foucaultianas, refletimos acerca de como essas práticas operam como “técnicas de si” às avessas, instigando mulheres a agirem sobre si mesmas, a reconfigurarem suas posturas corporais e discursivas, em sintonia com forças disciplinares do capitalismo. Realizamos uma sistematização crítica de literatura, em diálogo com o livro Clube da Luta feminista: um manual de sobrevivência (para um ambiente de trabalho machista), da jornalista Jessica Bennett, buscando evidenciar a autorregulação das mulheres no trabalho através da construção de uma subjetividade confiante, desconsiderando interseccionalidades e forças sociais, políticas e econômicas que mantêm enraizadas opressões e injustiças. Interessa-nos mostrar como a cultura da confiança favorece a governamentalidade biopolítica negando a vulnerabilidade e a importância da constituição de interações recíprocas e comunidades políticas sensíveis dentro das organizações.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Camila Maciel Campolina Alves Mantovani, Universidade Federal de Minas Gerais

Doutora em Ciência da Informação (ECI/UFMG), Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (UFMG).

Sônia Caldas Pessoa, Universidade Federal de Minas Gerais

Doutora em em Estudos Linguísticos pela FALE/UFMG, Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (UFMG).

Angela Cristina Salgueiro Marques, Universidade Federal de Minas Gerais

Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMG. Doutora em Comunicação Social pela UFMG. É pesquisadora do CNPq e tem pós-doutorado na Universidade Stendhal, Grenoble III, na França. É autora dos livros Apelos solidários (Intermeios, 2017), escrito com Angie Biondi; Diálogos e Dissidências: M. Foucault e J. Rancière (Appris, 2018), com Marco Aurélio Prado; e Ética, Mídia e Comunicação (Summus, 2018), com Luis Mauro Sá Martino. É organizadora do livro Vulnerabilidades, justiça e resistências nas interações comunicativas (SELO PPGCOM, 2018).

Referências

ALLEN, Amy. Emancipação sem utopia. Novos Estudos Cebrap, n.103, 2015, p.115-132.

ALLEN, A. Foucault on power: a theory for feminists. In: HEKMAN, Susan. (Ed.). Feminist interpretations of Michel Foucault. State College: Pennsylvania State University, 1996. p.265-282.

ALLEN, A. Foucault and the politics of our selves. History of the Human Sciences, Thousand Oaks, v. 24, n. 4, p. 43-59, 2011.

BIROLI, Flávia. Gênero e desigualdades. São Paulo: Boitempo, 2008.

BUENO, Winnie. Imagens de controle: um conceito do pensamento de Patrícia Hill Collins. Porto Alegre: Zouk, 2020.

BUTLER, Judith. .Vida precária. Contemporânea - Revista de Sociologia da UFSCar, São Carlos, v.3 n.1, 2011, p. 13-33.

BUTLER, J. Precarious Life. London: Verso, 2004.

BUTLER, J. “Rethinking Vulnerability and Resistance”, in BUTLER, J.; GAMBETTI, Z.; SABSAY, L. (orgs.) Vulnerability in resistance. London: Duke University Press, 2016.

COLE, Allison. All of us are vulnerable, but some are more vulnerable than others, Critical Horizons, v.17, n.2, 2016, p. 260-277.

COLLINS, Patrícia Hill. Pensamento feminista negro conhecimento, consciência e a politica do empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019.

FASSIN, D. and MEMMI, D. (eds.). Le gouvernement des corps. Paris: Éditions de l’École des Hautes Études en Sicences Sociales, 2004.

FASSIN, D. Another politics of life is possible, Theory, culture & society, v.26, n.5, 2009, p. 44-60.

FASSIN, D. Évaluer les vies : essai d’anthropologie biopolitique, Cahiers internationaux de Sociologie, v.128, n.1, 2010, p.105-115.

FASSIN, D. At the Heart of the State: the moral world of institutions, London: Pluto Press, 2015.

FERRARESE, Estelle. The vulnerable and the political: on the seeming impossibility of thinking vulnerability and the political together and its consequences, Critical Horizons, v.17, n.2, 2016, p. 224-239.

FOUCAULT, M. Poder de morte e direito sobre a vida. In: ______. História da Sexualidade, v.1, A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1980, p.127-152.

FOUCAULT, M. Usage des plaisirs et techniques de soi. Le Débat, n.27, 1985, p. 46-72.

FOUCAULT, M. “Les techniques de soi”, in: ____. Dits et Écrits IV, 1980-1988, org. por Daniel Defert e François Ewald. Paris: Gallimard, 1994a, pp. 783-813.

FOUCAULT, M. L’éthique du soin de soi comme pratique de la liberté, in: ____. Dits et Écrits IV, 1980-1988, org. por Daniel Defert e François Ewald. Paris: Gallimard, 1994b, pp. 708-730.

FOUCAULT, Michel. Le jeu de Michel Foucault. Entrevista dada à revista Ornicar. In: Dits et Écrits, v.3, [1977], 1994, p.194-228.

FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: MOTA, M. B. da. (org.). Ditos e escritos, v.9: genealogia da ética, subjetividade e sexualidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014, p.118-140.

FOUCAULT, M. O enigma da revolta. São Paulo: n-1 edições, 2019.

FOUCAULT, Michel. Friendship as a way of life. In: Ethics: subjectivity and truth, v.I (Ed. Paul Rabinow). New York: The new Press, 1997, p.135-156.

GILL, Rosalind; ORGAD, Shani. Confidence culture and the remaking of feminism. New Formations, v.91, 2017, pp. 16-34.

GILL, R.; ORGAD, S. Confidence culture. London: Duke University Press, 2022.

IONTA, Marilda. Das amizades femininas e feministas. In: RAGO, Margareth; GALLO, Sílvio (orgs.). Michel Foucault e as insurreições: é inútil revoltar-se? São Paulo: Intermeios, 2017, p.375-386.

LAUGIER, Sandra. L’autonomie et le souci du particulier. In: JOUAN, Marlène; LAUGIER, Sandra (dir.). Comment penser l’autonomie? Entre compétences et dépendances. Paris : PUF, 2009, p.407-432.

MATOS, Marlise. Democracia, sistema político brasileiro e a exclusão das mulheres. Revista do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, v.7, 2015, p. 24-35.

MBEMBE, Achille. Brutalismo. São Paulo: N-1, 2021.

McLAREN, Margareth. Resistência e revolução: “nem tudo é igualmente perigoso”. In: RAGO, Margareth; GALLO, Sílvio (orgs.). Michel Foucault e as insurreições: é inútil revoltar-se? São Paulo: Intermeios, 2017, p.351-362.

McLAREN, M. Foucault, feminismo e subjetividade. São Paulo: Intermeios, 2016.

OKSALA, Johanna. O sujeito neoliberal do feminismo. In: RAGO, M.; PELEGRINI, M.(orgs.). Neoliberalismo, Feminismos e Contracondutas: perspectivas foucaultianas. São Paulo: Intermeios, 2019, p.115-138.

OKSALA, J. Feminism and Neoliberal Governmentality, Foucault Studies, n.16, 2013, p.32-53.

PELBART, Peter Pál. Subjetivação e dessubjetivação. In:_____. O avesso do niilismo: cartografias do esgotamento. São Paulo: n-1 edições, 2013, p.225-236.

QUÉRÉ L. Les “dispositifs de confiance” dans l'espace public, Réseaux, 132 (23), 2005, p. 185-217.

RAGO, Margareth. Foucault, o neoliberalismo e as insurreições feministas. in RAGO, M. ; GALLO, S. (orgs.) Michel Foucault e as insurreições: é inútil revoltar-se?, São Paulo: Intermeios, 2017, p.363-374.

RAGO, Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas (SP): Editora da Unicamp, 2013.

RAGO, M.; PELEGRINI, M.(orgs.). Neoliberalismo, Feminismos e Contracondutas: perspectivas foucaultianas. São Paulo: Intermeios, 2019.

Downloads

Publicado

2022-12-29

Como Citar

MANTOVANI, Camila Maciel Campolina Alves; PESSOA, Sônia Caldas; MARQUES, Angela Cristina Salgueiro.
A confiança como “técnica disciplinar” e o controle sobre a autorrealização de mulheres no contexto do trabalho
. Cambiassu: Estudos em Comunicação, v. 17, n. 30, p. 5–26, 29 Dez 2022Tradução . . Disponível em: . Acesso em: 27 abr 2024.

Edição

Seção

Artigos