O FATOR RAÇA NA VIOLÊNCIA POLICIAL COTIDIANA: um debate necessário

Autores

Resumo

Este estudo busca trazer uma discussão racializada e histórica sobre a violência policial no Brasil. Assim, foi abordado, através de revisão de literatura e análise de três canções - um samba, um rap e um funk: gêneros musicais de origem negra e vítimas de criminalização, justamente em razão de suas raízes e protagonismos, e críticos das situações de violências vividas pela população negra brasileiras - de distintos públicos, tempos e estilos, essa problemática existente no cenário brasileiro e que, geralmente, é ignorada. Assim, “Preconceito de cor” de Bezerra de Silva, “Racistas Otários” de Racionais MC’s e “Delação Premiada” MC Carol dão forma a análise em tela mostrando a capilaridade e perpetuação do assunto. Trata-se de um quadro estagnado e preso a ordem eugenista que estrutura o Brasil. Posto isso, também foi possível problematizar o papel da educação em todos os fatores sociais que esse tema consegue alcançar, trazendo à tona o questionamento de que educação está sendo dada às crianças brasileiras nas escolas, se esta condiz com a realidade vivida, ou se prende unicamente em falsificações históricas, já que temos em mente a sabida importância das leis 10.639/03 e 11.654/08. Concluímos, portanto, reafirmando o valor da educação em fazer diferente e assumir um papel mais crítico acerca da polícia, das relações raciais no Brasil e do negro com relação ao Estado brasileiro e, principalmente, sobre a escancarada violência assistida por muitas dessas crianças todos os dias nas suas vivências enquanto a maioria epidérmica da população brasileira.

Palavras-chaves: Violência policial. Educação das Relações Étnico-Raciais. Música Negra. Racismo no Brasil. Racismo na polícia.

 

This study brings reflections of a racialized and historical discussion about police violence in Brazil. It was approached, through literature review and analysis of three songs - a samba, a rap and a funk: musical genres of black origin and victims of criminalization, precisely because of their roots, protagonisms, and critics of situations of violence lived by the black Brazilian population from different audiences, times and styles. Problems that exists in the Brazilian scenario and that, generally, is ignored. The songs “Preconceito de cor” by Bezerra de Silva, “Racistas Otários” by Racionais MC’s and “Delação Premiada” MC Carol give structure to the analysis on screen showing the capillarity and perpetuation of the subject. It is a stagnant scenario and tied to the eugenic order that structures Brazil. That said, it was also possible to problematize the role of education in all the social factors that this theme manages to achieve, bringing to the fore the question of what education is being given to Brazilian children in schools, whether this is in line with the reality they experience, or if it is linked only in historical falsifications, since we have in mind the well-known importance of laws 10.639/03 and 11.654/08. We conclude, therefore, reaffirming the value of education in doing differently and assuming a more critical role about the police, race relations in Brazil and the black in relation to the Brazilian State and, mainly, about the wide-open violence attended by many of these children all days in their experiences while the epidermal majority of the Brazilian population.

Keywords: Police violence. Education of Ethnic-Racial Relations. Black Music. Racism in Brazil. Racism in the police.

 

Este estudio busca generar una discusión racializada e histórica sobre la violencia policial en Brasil. Por lo tanto, se abordó, a través de la revisión bibliográfica y el análisis de tres canciones: una samba, un rap y un funk: géneros musicales de origen negro y víctimas de criminalización, precisamente por sus raíces y protagonismos, y críticos de situaciones de violencia. vivido por la población negra brasileña, de diferentes audiencias, tiempos y estilos, este problema que existe en el escenario brasileño y que, en general, se ignora. Así, los "Preconceito de cor" de Bezerra de Silva, "Racistas Otários" de Racionais MC's y "Delação Premiada" MC Carol dan forma al análisis en pantalla que muestra la capilaridad y la perpetuación del tema. Es una imagen estancada y pegada al orden eugenésico que estructura a Brasil. Dicho esto, también fue posible problematizar el papel de la educación en todos los factores sociales que este tema logra lograr, poniendo de relieve la cuestión de qué educación se está brindando a los niños brasileños en las escuelas, si está en línea con la realidad experimentada o si está vinculada solo en falsificaciones históricas, ya que tenemos en cuenta la conocida importancia de las leyes 10.639 / 03 y 11.654 / 08. Concluimos, por lo tanto, reafirmando el valor de la educación al actuar de manera diferente y asumiendo un papel más crítico sobre la policía, las relaciones raciales en Brasil y las personas negras en relación con el Estado brasileño y, principalmente, sobre la violencia abierta a la que asisten muchos de estos niños en todo el mundo. días en sus experiencias mientras que la mayoría epidérmica de la población brasileña.

Palabras clave: Violencia policial. Educación de las Relaciones Étnico-Raciales. Música Negra. Racismo en Brasil. Racismo en la policia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ronan da Silva Parreira Gaia, Universidade de São Paulo

Licenciado em Pedagogia pela Faculdade Filadélfia. Especialista em Direitos Humanos, Educação e Sociedade, Educação Especial e Inclusiva, Gestão Pública e em Psicopedagogia Institucional pela Faculdade de Educação São Luís. Mestrando em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo          (EERP/USP) .

Laysi da Silva Zacarias, Universidade de Brasília

Bacharela em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FDRP-USP). Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania da Universidade de Brasília- UnB. Integrante do “Maré - Núcleo de Estudos em Cultura Jurídica e Atlântico Negro” (FD-UNB/CNPq) e do Centro de Estudos em Desigualdade e Discriminação (CEDD/UnB).

Referências

ARAÚJO, J. A. Racismo, violência e direitos humanos: pontos para o debate. Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos, Bauru, v. 2, n. 2, p. 75-96, jun. 2014.

AZEVEDO, Amailton Magno. Samba: um ritmo negro de resistência. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 70, p. 44-58, ago. 2018. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0020-38742018000200044&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 1 jul. 2020. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-901x.v0i70p44-58.

AZEVEDO, C. M. M. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites do século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 267p.

AZEVEDO, R. G.; NASCIMENTO, A. A. Desafios da reforma das polícias no Brasil: Permanência autoritária e perspectivas de mudança. Civitas - Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 16, n. 4, p. 653-674, out.-dez. 2016.

BILL, MV. Só um papo: o Tempo, a Mídia e o Racismo. In: MV Bill. YouTube, 11 jun. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=isfrl6GxyMw>. Acesso em 02 jul. 2020.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-brasileira”, e dá outras providências.

BRASIL. Lei n. 11.645, de 10 março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

BROWN, M.; BLUE, I. Racistas otários. In: Holocausto Urbano. Zimbabwe, 1990. Faixa 2 (Labo B).

CARNEIRO, Aparecida Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. 339f. Tese (Doutorado em Educação). Universidade de São Paulo/SP.

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre a negritude. Trad. Ana Maria Gini Madeira. Belo Horizonte: Nandyala, 2010.

FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Salvador: EdUFBA, 2008. (Original publicado em 1952).

FERRERE, V. M. S. Reflexões sobre a desmilitarização da polícia. Jus. Publicado em junho de 2019. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/74407/reflexoes-sobre-a-desmilitarizacao-da-policia>. Acesso em: 01 jul. 2020.

FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Corpo negro caído no chão: o sistema penal e o projeto genocida do Estado brasileiro. 2008. 145 f. Dissertação (Mestrado em Direito). Universidade de Brasília, Brasília/DF.

FREITAS, Felipe da Silva. Racismo e Política: uma discussão sobre mandato policial. 2020. 263p. Tese (Doutorado em Direito). Universidade de Brasília, Brasília/DF.

GAIA, Ronan da Silva Parreira, et al. A nova política dos velhos tempos: reflexões sobre a construção de um projeto de nação. Áskesis, v. 8, n. 1, p. 40-55, 2019.

G1. Mãe do dançarino DG discorda do laudo da perícia sobre morte. G1 Rio. Publicado em 04 de março de 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/03/mae-do-dancarino-dg-discorda-do-laudo-da-pericia-sobre-morte.html>. Acesso em: 30 jun. 2020.

G1. PM de Campinas deixa vazar ordem para priorizar abordagens em negros. In: G1 Campinas e Região. Publicado em 23 jan. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2013/01/pm-de-campinas-deixa-vazar-ordem-para-priorizar-abordagens-em-negros.html>. Acesso em: 02 jul. 2020.

GUERRAS DO BRASIL. Universidade do Crime. Episódio 5. Produção de Luiz Bolognesi. Brasil: Netflix, 2018, 26min.

HALL, Stuart. Que “negro” é esse na cultura negra? In.: Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, p.335-352, 2003.

MC CAROL. Delação Premiada. In: MC CAROL. Bandida. Heavy Baile Records, 2016. Faixa 9.

MENDES, G. G.; ALONSO, H. O RAP contra o racismo: a poesia e a política dos Racionais MC's. Revista Interamericana de Comunicação Midiática, v. 14, n. 27, p. 56-77, 2015.

MIRANDA, D; GUIMARÃES, T. O suicídio policial: O que sabemos? DILEMAS: Revista de Estudos de Conflitos e Controle Social, v. 9, n. 1, p. 1-18, 2016: 1-18. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/dilemas/article/view/7680>. Acesso em:

jul. 2020.

MONTEIRO, Felipe Mattos; CARDOSO, Gabriela Ribeiro. A seletividade do sistema prisional brasileiro e o perfil da população carcerária. Um debate oportuno. Civitas - Revista de Ciências Sociais, Porto Alegre, v. 13, n. 1, p. 93-117, 2013.

NAÇÕES UNIDAS. Medo da violência policial e de acusações injustas é maior entre a população negra do Rio. Publicado em 23 de abril de 2018. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/medo-da-violencia-policial-e-de-acusacoes-injustas-e-maior-entre-a-populacao-negra-do-rio/>. Acesso em: 02 jul. 2020.

NASCIMENTO, Abdias do. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 3. ed. São Paulo: Perspectivas, 2016. (Original publicado em 1978).

RATTS, Alex. Corpos negros educados: notas acerca do movimento negro de base acadêmica. NGUZO: Revista do Núcleo de Estudos Afro-Asiáticos, Londrina, v. 1, n. 1, p. 28-39, mar./jul., 2011.

SANTOS, H. A busca de um caminho para o Brasil: a trilha do ciclo vicioso. 2. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2003.

SANTOS, H. [2002]. Entrevista ao Programa Roda Viva. In: TV Cultura. 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1e6HHctgWPk>. Acesso em: 02 jul. 2020.

SANTOS, Ana Paula. PMs acusados pelo desaparecimento de Amarildo são absolvidos pela Justiça. G1 Bom dia Rio. Publicado em 14 de março de 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/03/14/pms-acusados-pelo-desaparecimento-de-amarildo-sao-absolvidos-pela-justica.ghtml>. Acesso em: 30 jun. 2020.

SILVA, B. Preconceito de cor. In: SILVA, B. Justiça Social. RCA/BMG, 1987. Faixa 11.

SILVA, E. F. Os direitos humanos no “bolsonarismo”: “descriminalização de bandidos” e “punição de policiais”. Conhecer: Debate entre o Público e o Privado, n. 22, p. 133- 153, 2019.

SIMAS, Luiz Antonio. Liberdade Religiosa, Intolerância e Racismo. In: Canal Philos. YouTube, 11 abr. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FRdOLYFFrLQ>.

SINHORETTO, Jaqueline; LIMA, Renato Sérgio de. Narrativa autoritária e pressões democráticas na segurança pública e no controle do crime. Contemporânea, v. 5, n. 1, p. 119-141, 2015.

SODRÉ, Muniz. Pensar Nagô. Petrópolis: Vozes, 2017.

SOUSA, Rainner Gonçalves. BEZERRA DA SILVA E O CENÁRIO MUSICAL DE SUA ÉPOCA: ENTRE AS TRADIÇÕES DO SAMBA E A INDÚSTRIA CULTURAL (1970 – 2005). 2009. 155f. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Goiás/GO.

URASSE, Anin. O mito da brasilidade. In: Pensamentos mulheristas. Publicado em 08 de fevereiro de 2017. Disponível em: <https://pensamentosmulheristas.wordpress.com/2017/02/08/o-mito-da-brasilidade/>. Acesso em: 02 jul. 2020.

VASCONCELOS, C. PMs são filmados torturando jovem e ameaçando comunidade. El País. Publicado em 13 jun. 2020. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-14/pms-sao-filmados-em-sao-paulo-torturando-jovem-e-ameacando-comunidade.html>. Acesso em: 22 jun. 2020.

VELOSO, Lucas. Anuário da Violência: 75% dos mortos pelas polícias brasileiras são negros. ALMA PRETA. Jornalismo preto e livre. Publicado em 10 de setembro de 2019. Disponível em: <https://www.almapreta.com/editorias/realidade/anuario-da-violencia-75-dos-mortos-pelas-policias-brasileiras-sao-negros>. Acesso em: 02 jul. 2020.

WILDERSON III, Frank B. Afropessimism. In: Author Events. YouTube, 28 apr. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HvvSgvHa0AE&feature=youtu.be>. Acesso em: 30 jun. 20

Downloads

Publicado

2020-11-19

Como Citar

Gaia, R. da S. P., & Zacarias, L. da S. (2020). O FATOR RAÇA NA VIOLÊNCIA POLICIAL COTIDIANA: um debate necessário. Kwanissa: Revista De Estudos Africanos E Afro-Brasileiros, 3(6). Recuperado de http://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/kwanissa/article/view/14501

Edição

Seção

Artigos